Condomínios com áreas verdes e apartamentos com varandas devem ser tendência no mercado imobiliário pós-pandemia

Na contramão do que vinha acontecendo nos anos anteriores, em 2020 as pessoas foram obrigadas a rever conceitos e realinhar a escala de prioridades. Entre as mudanças mais significativas, um novo olhar sobre o jeito de morar tem ganhado força. Se antes a tendência era de apartamentos mais compactos, após passarem tanto tempo dentro de casa, tanto no horário de lazer, quanto a trabalho, as pessoas passaram a desejar estar em locais maiores e mais confortáveis, com varandas e ambientes mais funcionais para curtir em família.

Foi necessária essa revolução trazida por um vírus para que todos pudessem perceber que o ato de morar vai além de apenas chegar a casa à noite depois de um dia de trabalho. E talvez, segundo José Roberto Graiche Júnior, presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), este seja o momento ideal para voltarmos a pensar em um modo mais tradicional de moradia. Sem que o foco esteja somente em conceitos que empreguem o ‘disruptivo’ e o ‘compartilhamento’.

“Diante do isolamento, percebemos que as áreas comuns dos empreendimentos de maior destaque foram as abertas, em que as pessoas podiam tomar banho de sol e respirar ao ar livre. Além é claro de academias, salas de ginástica e brinquedotecas. Já dentro dos apartamentos, ficaram ainda mais em evidência os espaços que podem servir para home office e home class, assim como ambientes amplos e arejados”, avalia o especialista.

Desejos estes que levaram a família de Dhana Mylena Vieira a mudar de endereço em pleno período de pandemia. Ela, junto com o marido Felipe Bernardi, a filhinha de três anos, Helena Vieira Bernardi, e seus dois gatos sentiram a necessidade de morar em um espaço mais amplo e com área verde. Por isso, há três meses eles saíram de um condomínio que não oferecia área de lazer, para outro imóvel com infraestrutura completa. Com direito a academia, piscina, um bosque para caminhada e parquinho infantil.

“A falta de estrutura onde morávamos no início do isolamento social foi decisiva para a nossa mudança. E o principal fator que influenciou na escolha pelo novo apartamento foi justamente a disponibilidade de ter uma área externa dentro do condomínio, com área verde, espaço para prática de esporte e de lazer para crianças, aliada à segurança. Estamos muitos satisfeitos no novo prédio, pois ele cumpre com o que buscávamos e, com isso, nossa qualidade de vida já melhorou”, comemora Dhana.

Impactos e tendências

Em meio a esse processo dinâmico, conceitos que pareciam imutáveis de repente tomaram novos rumos. E o principal reflexo para Odair Garcia Senra, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), está na valorização da moradia. “As famílias, depois de fechadas em casa durante meses, passaram a dar uma grande importância à qualidade da habitação, ao seu desempenho em termos de conforto térmico, iluminação e acústica, e ao seu bem-estar em termos de espaço”, comenta.

Percepções que segundo ele foram reforçadas pelo resultado da pesquisa com potenciais compradores de imóveis feita recentemente pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica. De acordo com o estudo, 15% dos entrevistados apontaram que o isolamento interferiu no estilo de imóvel desejado, sendo que destes 19% responderam que não comprariam um imóvel sem varanda. Dados que ganham um peso ainda maior se analisados por faixa de renda. 40% dos que ganham acima de R$ 13 mil disseram que a fase passada em casa alterou as suas necessidades imobiliárias.

Além disso, segundo Senra a busca por imóveis em áreas mais distantes do centro, e, portanto, longe de muitos locais físicos de trabalho, também aumentou. Provavelmente como reflexo da possibilidade do home office. Fato que segundo Graiche impacta os condomínios residenciais principalmente nos hábitos de uso, horários de maior barulho e, muitas vezes, na infraestrutura do prédio para utilização de equipamentos e recursos tecnológicos como a internet, em maior escala.

Já nos edifícios comerciais, ele destaca como possíveis reflexos a redução de espaços e a diminuição da procura. “Ainda é muito cedo para tirarmos conclusões. Por enquanto, é mais especulação geral do que realidade. Mas não acredito que o home office tenha vindo para ficar em grande escala, uma vez que ainda não temos enraizada por aqui a cultura do trabalho a distância”, avalia o presidente da AABIC.

As residências se transformaram também no espaço de lazer, de segurança e por que não dizer de algum conforto e qualidade de vida. E, assim, muitas pessoas se deram conta de que não tinham a estrutura necessária para passar tanto tempo na sua própria casa ou no condomínio onde moram. Por isso, de acordo com Helio Bairros, nesse novo cenário os síndicos e moradores estão mais atentos à necessidade de manter tudo em funcionamento, atualizado e conservado.

Para ele, a pandemia revelou novas formas de se relacionar com a moradia e criou necessidades que devem modificar as operações do mercado imobiliário atual, como por exemplo, o tamanho de casas e apartamentos. Outra tendência segundo Bairros será a valorização ainda maior de edificações mistas. “As pessoas começaram a comprar em estabelecimentos próximos à sua residência. O surgimento de prédios que integrem unidades residenciais com comércio é uma forma de facilitar o acesso e diminuir a necessidade de deslocamento e uso de transportes”, explica.

Fonte: Condomínios SC

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