Ter a casa própria é o sonho de muitos brasileiros, mas a falta de critério e planejamento ao tomar esta decisão pode ter consequências graves na vida financeira e pessoal.

Foi o que aconteceu com o médico Alexandro Andreolli, 43, que comprou um imóvel de R$ 700 mil em Campinas (93 km a noroeste de São Paulo) há dois anos. Ele pagou R$ 300 mil de entrada e financiou os outros R$ 400 mil em 15 anos. As parcelas do apartamento ficaram pesadas demais, e ele acabou entrando no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito. Agora, busca alternativas para se livrar das dívidas.

“Estamos pensando em vender o apartamento e buscar alternativas para aumentar a renda”, declarou o médico. O sonho da casa própria começou a virar pesadelo, segundo ele, quando optou por abrir um negócio próprio na área de tecnologia de informação para saúde, o que aumentou suas despesas e comprometeu a renda. “Se fosse hoje, eu não compraria o apartamento”, afirmou.

O erro de avaliação cometido pelo médico é bastante comum, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, e poderia ser evitado com uma dose extra de cautela antes de tomar a decisão de compra. Nessa hora, é importante fazer algumas perguntas para si mesmo, tanto em relação à capacidade de pagamento quanto em relação à situação da vida pessoal e profissional.

Os especialistas recomendam responder a estas cinco perguntas abaixo antes de decidir comprar um imóvel.

1. Esta é a hora certa?

A hora certa não depende somente de ter condições financeiras. Assuntos pessoais e profissionais também são determinantes para o sucesso da compra de um imóvel, seja em relação ao tipo e tamanho do imóvel quanto à sua localização. Ter uma vida estável é um ponto positivo, seja na vida conjugal ou familiar quanto na carreira. “Tudo está relacionado ao projeto de vida”, disse André Novaes, planejador da Life Finanças Pessoais.

Em alguns casos, uma transferência de trabalho para outra cidade, uma mudança de emprego ou o nascimento de filhos podem ser o suficiente para motivar a venda do imóvel. “A pessoa deve estar num momento da vida em que ela tenha certeza de algumas coisas”, afirmou Luiz Calado, autor do livro “Imóveis. Seu Guia Para Fazer da Compra e Venda Um Grande Negócio” (ed. Saraiva).

“Se a pessoa quer ter dois filhos, e o cônjuge também quer, pode fazer sentido comprar o apartamento de três quartos”, disse. “Uma pessoa mais jovem, que acabou de entrar na faculdade em uma cidade diferente da família, vai enfrentar muito mais incertezas.”

2. Quanto eu posso pagar à vista?

Em relação ao dinheiro, a primeira recomendação para quem quer comprar um imóvel é pagar a maior parcela possível à vista, financiando o menor valor possível. Para isso, vale a pena economizar durante alguns anos e adiar o sonho da casa própria, segundo os consultores.

Para Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, a entrada deve ser de, no mínimo, 60% do valor do imóvel. Para um imóvel de R$ 300 mil, por exemplo, a entrada deveria ser de R$ 180 mil, pelo menos.

“Quando você entra em um financiamento de longo prazo, existe o risco de perder o emprego, de ter mudanças na sua renda. São muitas incertezas no caminho”, afirmou.

Para quem ficou desanimado com a ideia de juntar 60% do valor do imóvel, a saída é sonhar com um apartamento menor ou em outra localização, até encontrar uma opção compatível com sua realidade financeira. “Você pode morar mais longe, estudar para aumentar a renda, entre outros”, disse Calil.

3. Qual o valor da parcela que posso pagar?

Para Calil, todas as parcelas da vida de uma pessoa (incluindo prestação de carro e de outros bens) devem somar, no máximo, 20% de sua renda. “Se passar disso, você corre um grande perigo de se tornar inadimplente em alguma área da vida”, disse. Para quem ganha R$ 3.000, por exemplo, a ideia seria comprometer, no máximo, R$ 600 com parcelas a pagar.

No caso do médico Andreolli, a situação financeira ficou crítica porque, além do custo do financiamento do imóvel, houve despesas com a reforma do apartamento e também investimentos no seu novo negócio. Ao mesmo tempo, a renda familiar diminuiu. “A gente acha que pode fazer tudo, trabalhar bastante e pagar tudo, mas existe um limite na nossa capacidade de gerar renda”, afirmou.

4. Será que compensa um financiamento longo?

Muita gente pensa que é interessante esticar ao máximo o prazo de financiamento, porque assim o valor da parcela diminui. Porém, o ideal é optar pelo menor prazo possível de financiamento para pagar menos juros.

“Sempre vale a pena calcular o valor da parcela para o prazo de 30 anos, e também para dez anos, e comparar, porque o prazo mais curto é sempre mais vantajoso”, afirmou Novaes.

Ele disse que o tempo funciona como um “combustível” para os juros: quanto mais longo o financiamento, mais caro fica o imóvel. Ele exemplifica: num financiamento de 30 anos, a parcela custa R$ 1.000; para 15 anos, a parcela fica em torno de R$ 1.120. Ou seja: o valor é um pouco maior, mas o imóvel será quitado na metade do tempo.

5. Quanto preciso de reserva?

Além de dar a maior entrada possível à vista, é importante reservar dinheiro para emergências, segundo Calado. “Imprevistos acontecem, e é ideal ter o equivalente a seis a oito meses da renda guardados para esses casos”, afirmou.

Ele disse que, na prática, as pessoas costumam dar tudo o que têm na hora da aquisição da casa própria e, depois, são pegas de surpresa pelos imprevistos, atrasando o pagamento da prestação do imóvel.

Fonte: UOL Economia

 

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