Quando o assunto “casa de veraneio” surge numa roda de conversa, uma máxima é inevitável entre os interlocutores: “esse tipo de imóvel traz duas alegrias. Uma na hora compra e outra na hora da venda”. Mas, como toda regra tem exceção, quem sonha com um refúgio no campo ou na praia não precisa desistir. Com planejamento, dá para evitar prejuízos e garantir o sonhado refúgio.
Como define Paulo Pôrto, professor do MBA Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil da Fundação Getulio Vargas, a compra de um imóvel envolve uma carga emocional muito forte. E, numa casa de férias, isso fica ainda mais latente, porque o foco está no lazer.
— Como nem todo mundo é matemático, às vezes, a racionalidade fica de lado — observa ele.
Antes de fechar o negócio, é importante avaliar uma extensa lista de questões. Só para citar as principais, Pôrto recomenda avaliar os custos de condomínio, IPTU, manutenção, vedação e até mesmo a renovação do ar-condicionado.
— Se a pessoa compra um imóvel de R$ 1 milhão, terá que investir entre 0,3% e 0,6% deste valor (até R$ 6 mil) mensalmente na manutenção — calcula ele.
Quando a casa não é mobiliada, o gasto é ainda maior. Entre comprar móveis, cuidar da climatização e instalar cortinas, o proprietário gastará mais cerca de 20% do valor da compra. Dentro do exemplo anterior citado por Pôrto, seriam mais R$ 200 mil a serem levados em consideração.
VISTORIA COMPLETA
Outra dica é levantar toda a situação estrutural e legal do imóvel. No primeiro caso, o professor recomenda pedir ajuda de um arquiteto ou de um engenheiro para avaliar questões como as condições elétricas e hidráulicas da casa. Já no segundo, o foco deve a situação cadastral do imóvel, verificando o pagamento de taxas e regularizações cabíveis.
— Em geral, o comprador está adquirindo algo em um lugar onde ele não conhece as pessoas. Então, tem que tomar cuidado — diz ele
Para quem vai levantar uma construção do zero, a dica é zelar pela simplicidade. O conselho é da paisagista Sonia Infante, que já assinou, ao lado de arquitetos, cerca de 15 casas entre serra e mar.
— As pessoas já entenderam isso e buscam projetos de conservação mais simples. Entre os meus projetos, vários foram feitos com madeiras muito antigas e tratadas, que exigem manutenção apenas de quatro em quatro anos — ilustra ela.
Na parte interna, Sonia usa recursos como fiação e rede hidráulica externos para facilitar consertos. Também costuma incorporara vidros para a luz do sol entrar nos espaços, evitando mofos.
A simplicidade também vale para o paisagismo. Segundo ela, tem que ser algo muito bem pensado para durar “o resto da vida”.
— Não adianta colocar uma planta de serra na praia ou vice-versa. Isso vai dar um trabalho enorme — prevê Sonia.
PARA MINIMIZAR OS CUSTOS
Entre os sabores e os dissabores que uma casa de veraneio pode oferecer, há quem encontre boas saídas para equilibrar os gastos. A empresária Patrícia Aragão, que mora em Nova Friburgo, é um desses casos.
— Queria investir em um imóvel e resolvi comprar um apartamento de três quartos em Cabo Frio, em vez de adquirir algo na minha cidade — conta ela, sobre a aquisição feita há sete anos.
Com a compra, Patrícia ganhou um endereço usado por ela, o marido e os filhos ao longo de todo o ano para passeios e festas. Só não é habitual ocuparem o apartamento na alta temporada, quando a cidade fica muito cheia. E é aí que está “o pulo do gato”.
— Nestas datas alugamos a casa para terceiros. Com o dinheiro, amortizamos o condomínio do ano inteiro — conta ela.
Um solução parecida foi encontrada pela empresária Lígia Schuback. Ela mora no Rio e tem uma casa em Angra, que já foi o principal destino de férias e feriados da família. Com o passar dos anos, porém, os filhos de Lígia cresceram e as viagens começaram a ficar menos frequentes. Como ela nem pensa em vender a propriedade, encontrou uma alternativa.
— A casa sempre teve uma boa relação custo-benefício, porque usufruíamos muito. Mas com as visitas menos frequentes, virou só custo. Então, tive a oportunidade de alugá-la por um ano, e assim fiz — relata Lígia. — Nunca me arrependi da compra, porque fizemos ótimas amizades e vivemos muitos momentos prazerosos la. Hoje consigo mantê-la cuidada e ainda sobra dinheiro.
PROJETO DE VIDA
Para o vice-presidente do Secovi-Rio, Leonardo Schneider, uma casa de veraneio precisa ser vista como um projeto de vida. O comprador deve imaginar como ele se vê frequentando aquele ambiente ao longo dos anos.
— Até porque esses imóveis não costumam ter muita liquidez. Não é um investimento que será muito valorizado com o passar do tempo — comenta ele. — E quando não é frequentado, se deteriora.
Schneider também recomenda que, antes de fechar negócio, o interessado faça um “test drive”:
— Alugue o imóvel durante uns três meses e passe uma temporada com a família e amigos no local. Veja se realmente vale a pena.
E a atenção não deve se limitar apenas ao imóvel em si. Todos os aspectos práticos precisam ser levados em consideração.
— É importante observar também como é o deslocamento até o local. Algumas regiões podem concentrar grandes engarrafamentos em determinadas épocas do ano. Então, o proprietário precisa saber se vai conseguir se locomover em datas e horários alternativos — diz ele, acrescentando as forças da natureza à lista. — Se é praia, tem maresia. Se é serra, tem o risco de cupins. Nada disso pode ser esquecido.
Fonte: O Globo
Esse artigo ajudou a esclarecer muitas dúvias, é sempre bom encontrar pessoas dispostas à ajudar, parabéns pela iniciativa, ótimo trabalho.