A sustentabilidade vem ganhando espaço em todos os segmentos de mercado. E na construção civil não é diferente. De acordo com Felipe Faria, CEO do Green Building Council (GBC) no Brasil – entidade que reúne empresas da construção civil, incorporadores e grandes fornecedores de materiais e certifica empreendimentos com o selo LEED no país –, as “edificações verdes alcançaram um patamar histórico nos últimos dez anos e deixaram de ser um privilégio das construções de alto padrão”. Hoje, diversos empreendimentos já trazem um novo olhar sobre o planejamento urbano e vêm compor um panorama de inovação, com tecnologia e funcionalidade. As razões desse crescimento estão nos benefícios que as edificações verdes trazem às pessoas e ao meio ambiente. Além disso, as construções sustentáveis são consideradas hoje o melhor modelo de negócio no segmento imobiliário, gerando mais valor ao imóvel.
Com diversos empreendimentos certificados ou em processo de certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, ou Liderança em Energia e Design Ambiental, em tradução livre), a Bresco mantém no Parque Corporativo Viracopos, em Campinas, um terreno com 1 milhão de metros quadrados que reúne prédios de escritório, centros de treinamento, galpões para logística, indústria leve e tecnologia, além de um hotel da um hotel da rede Ramada, uma de suas iniciativas mais inovadoras. “Usina de energia solar, estação de tratamento de esgoto com uso de membranas ultrafiltrantes, o que permite a utilização de todo o esgoto tratado como água de reúso, destinada a irrigação de praças e fornecimento aos imóveis do empreendimento, posto para abastecimento de carros elétricos e um programa de controle da fauna e flora da região foram algumas das iniciativas que tomamos no desenvolvimento do projeto”, conta Carlos Sisti, diretor de operações da empresa, especializada em terceirização imobiliária.
Dentro do empreendimento, entre outros imóveis, a companhia mantém o G1 Viracopos, que visa atender a demandas logísticas com total flexibilidade e é um dos primeiros galpões no Brasil com o teto coberto com painéis solares. “São 3 000 metros quadrados de painéis, que permitem a geração de até 300 kWp/h e o abastecimento de 100% das áreas comuns do empreendimento”, afirma Sisti. O Parque Corporativo possui ainda uma área verde preservada em forma de parque linear, com mais de 270 000 metros quadrados, onde foi realizado o plantio de mais de 26 000 mudas da Mata Atlântica na zona de preservação ambiental, para incremento da diversidade da flora na região, irrigadas com água de reúso. Nesse espaço, a Bresco disponibilizou pistas de caminhada e corrida e estações para prática de exercícios construídas com madeira de reflorestamento. Esse benefício pode ser usufruído por todos os ocupantes do Parque Corporativo, que têm acesso ao local dirigindo as bicicletas também fornecidas pela Bresco.
Investimento no futuro
A preocupação com a sustentabilidade não é novidade na Bresco. O caráter patrimonialista da empresa, que privilegia investimentos de longo prazo, mantendo a qualidade e a valorização das propriedades, coloca na ponta do lápis eventuais custos iniciais maiores no desenvolvimento de empreendimentos sustentáveis e sempre enxerga uma equação positiva numa perspectiva futura. Em 2016, o Hub Natura, galpão desenvolvido sob medida (built to suit) para a Natura com o objetivo de fazer o armazenamento de produtos acabados, é o primeiro projeto de centro de distribuição com utilização do sistema de transelevadores e pé-direito de 19 metros a receber a certificação LEED Silver do GBC no Brasil. “Na certificação LEED, a redução de consumo de energia tanto durante a construção como na operação gera grandes pontuações. Por ser um galpão construído para operação robotizada, a eficiência energética foi um desafio para alcançarmos a certificação”, explica Carlos Sisti.
Felipe Faria concorda que essa visão de futuro da companhia se mostra virtuosa. “Em linhas gerais, podemos dizer que o custo de construção de um empreendimento compatível com as normas ‘verdes’ pode sair até 6% mais alto. Porém, se levarmos em consideração que apenas 15% dos custos de um prédio corporativo ao longo de 40 anos estão na fase de construção, a vantagem é clara para quem enxerga o longo prazo”, diz.
O CEO do GBC lembra também que, hoje em dia, muitos fornecedores já estão preparados para as construções sustentáveis e que, muitas vezes, com o projeto seguindo as regras de certificação desde o início de seu desenvolvimento, a diferença de custos iniciais pode chegar a zero. “O mais importante, no entanto, é considerar que os ganhos são muito maiores do que isso. Alguns estudos já apontam que o conforto visual, de luz e temperatura gerado nos prédios verdes aumenta a satisfação e a produtividade dos funcionários”, completa.
“Apenas 15% dos custos de um prédio corporativo ao longo de 40 anos estão na fase de construção, a vantagem é clara para quem enxerga o longo prazo”
Felipe Faria, CEO do Green Building Council Brasil
Foi esse conceito que motivou a direção brasileira da rede hoteleira Vert Hotéis, das marcas Ramada, eSuites e Wyndham, a participar do projeto e da construção de um hotel totalmente sustentável. “O posicionamento da empresa no mundo todo afirma que ‘Somos todos hóspedes do planeta’. E que, portanto, precisamos gerar o menor impacto possível na natureza, deixando o local onde atuamos igual ou melhor do que o encontramos”, afirma Erica Drumond, presidente da Vert Hotéis no Brasil.
Além dos ganhos ligados à qualidade de vida e preservação ambiental, as construções sustentáveis também agregam ganhos financeiros. Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), que analisou mais de 2 000 prédios comerciais na cidade de São Paulo entre o primeiro trimestre de 2010 e o terceiro trimestre de 2014, aponta que as construções verdes são hoje a melhor opção de negócio no mercado imobiliário. Os dados mostram que o reconhecimento de uma edificação como sustentável promoveu uma valorização por metro quadrado no aluguel de 4% a 8%.
No mesmo estudo, também se identificou que as construções verdes registraram taxa de vacância de 28,6% contra 34,1% nos edifícios não certificados. Outro ponto avaliado é que elas têm taxas de condomínio com valores entre 15% e 25% abaixo dos cobrados nos prédios convencionais. “Soma-se a isso uma percepção do mercado de que as pessoas têm uma predisposição para investir em imóveis sustentáveis, o que por si só agrega valor aos empreendimentos”, afirma Felipe Faria.
Fonte: Exame
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